quarta-feira, 5 de novembro de 2008

MEUS ESTUDOS - CRIANÇAS

Há uns 20 dias concluí um estágio obrigatório da faculdade em um abrigo de crianças abandonadas e maltratadas pelos pais, que por denúncias vão para este lar. Quero escrever sobre isso. Fiz 10 horas de estágio, divididas em 9 visitas. A primeira visita fiquei "na minha", não sentia nada e isso foi estranho. Talvez eu não soubesse onde estava, não consegui entrar naquela realidade diferente da minha. E com os dias o que justamente pegou, foi a diferença!
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Legal ser diferente, sempre achei o máximo ser diferente! Mas conheci uma diferença que não conhecia. Aquelas crianças entre elas são iguais. Embora cada uma tenha uma estrutura, uma história, um motivo para estar alí diferente, num todo elas são iguais. Por estarem alí juntas, construíram um grupo que eu observei como uniforme. Ouvi que esta diferença está relacionada à marca do abandono. Pode ser. E se for mesmo isto, faz de mim a diferente alí dentro. Foi justamente isto que senti. Eu estava sendo a diferente alí e isto não me foi agradável, não achei o máximo ser diferente naquele momento. Não senti dó de ninguém, apenas me questionei muito.
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Nas primeiras visitas não consegui interagir muito, com o tempo aquela molecadinha foi me conquistando. Mas ainda assim eu pensando naquela diferença. O que faz de mim diferente dessas vidas? O que em mim teve que neles não? Um pai? Uma mãe? Mais além, uma família?Notei a importância de uma família para a estrutura de uma pessoa. Uma das guriazinhas me perguntou "Marília, você é minha mãe?". Uma vez que a mãe é quem nos sujeita, é ela quem olha para nós e diz "teu nome é Fulano". A mãe é quem a priori nos caracteriza como lindo como a avó, gordinho como o pai, é ela quem diz que temos os olhos da nossa tia ou o temperamento do nosso avô ranzinza.
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Com tudo, aquela guriazinha não sabia nem quem era sua mãe, quem dirá o que ela própria é? Com quem se parece? Porque tem aquelas características? E qual a tendência dela? A origem do nome.... E foi aí que encontrei a tal diferença. Triste. Creio que cada estágio que estou passando na faculdade tenho aprendido não só da psicologia e do ser humano, mas tenho apredido a valorizar a minha vida, minha história. Infelizmente tive que responder à ela que não, "Não, não sou eu a tua mãe." Não é fácil. Mas agradeci por ter a minha mãe e ter uma idéia de quem sou eu.
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Antes de ontem, um amigo meu me perguntou como eu consigo atender alguém sendo que também tenho problemas pessoais que as vezes pegam forte e nos sentimos muito pra baixo. Gente... pode parecer difícil, mas na hora é automático. Entrei na realidade daquela guria que não sabia quem era e não conhecia sua mãe. Teu problema não parece o maior do mundo? Então, eu estando dentro do real dela, o problema dela será o pior do mundo para mim também, naquele momento. E foi o que aconteceu. É assim que é em meus estágios.
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Não quero classificar este estágio como bom ou ruim, foi válido e aprendi com ele. Aprendi com aquela vida que talvez fique alí até seus 18 anos, e dalí pra frente comece sua vida sozinha, ainda sem conhecer sua origem. Não pretendo trabalhar com crianças, não foi fácil essas 10 horas. Mas ficou em mim a esperança de que não só esta guria como todos daquele abrigo vão conseguir retomar o caminho. Têm uma vida inteira pela frente. E que eles alcancem os sonhos deles.
Na última visita uma das crianças me disse que será médico quando crescer, eu acreditei. Aquelas crianças precisam de quem acreditem nelas. E foi o que eu fiz!
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