quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Viajei com um anjo

Eu não poderia deixar de registrar, sim, existem anjos e alguns cruzam por nós sutilmente, que nossas próprias barreiras não nos impeçam de enxergá-los. Peguei um ônibus com a Sophia, cheia de mochila, um calor desgraçado.. optei por sentar naqueles bancos unitários para evitar maiores contatos devido ao calor. Eu fui ridícula. Não demorou para eu perceber que o sol batia no nosso lado da janela, ...quase insuportável. Olhei para o outro lado e tinha uma senhora muito simples, roupas gastas, posso arriscar até que o cheiro de urina que sentia vinha dela, ao seu lado tinha um lugar vago. Ela olhou para mim e disse "Sentem aqui comigo, aqui o sol não bate".
 
Atrás do óculos espelhado, eu diria super cafona, olhos bem marcados pela vida, a gente sente se olhar bem fundo. Eu aceitei, fomos para seu lado, a Sophia logo lhe deu sorrisos e ela retribuiu dizendo "tá estranhando esse cabelo duro para cima né?". Quem me conhece sabe o quanto eu detesto conversas "de elevador" em lugares públicos, mas aquela senhora me derrubou com sua simplicidade. Eu deveria ter sentado ali desde a hora que entrei no ônibus, com ou sem sol e ter aproveitado ela desde o início. Ela conhecia quase o Brasil todo por causa da música, em sua juventude fazia parte de um grupo de dança, tem o dom da música, canta e compõe lindas canções. Falamos sobre o calor sim, mas ela também me deu uma rica aula de chás terapêuticos, como a minha vó Geny fazia e, me desmontou de saudades da minha véia.
 
Com 73 anos não tinha 1 problema de saúde nem tomava remédios, segundo ela, devido aos chás preventivos, me explicou aonde comprar e como preparar. Eu viajei com um anjo aquele trecho, tenho certeza. A sofisticação da música está nas coisas mais simples que podemos imaginar e, a simplicidade tem muito mais a nos ensinar do que qualquer outra coisa nesta terra. Porque o que vale é a alma, o espírito, a história de vida e não o corpo, nem mesmo se ele esteja com cheiro de urina ou sujo. Diante de tantas publicações de ostentação que leio todos os dias, tantas reclamações e fotos de viagens de valor, eu não poderia deixar de falar de um anjo chamado Ita Loá, que eu tive o imenso privilégio de conhecer em um ônibus público na cidade de Guarulhos/SP. Que a gente tire os olhos do próprio bem estar e enxergue a nossa volta.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Naqueles dias

É a minha primeira postagem de 2014, estou entrando em meu 7º ano de Blog, o que vai tornando cada vez mais difícil coragem para cancelar enfim esta página. No fim das contas, vez e outra, eu sempre acabo passando por aqui. Movida pelas minhas emoções, boas ou ruins, acabo voltando aqui. E para meus próprios registros, valerá a pena um dia.
 
Para um início de ano eu gostaria de postar coisas bem legais e positivas, mas nem todo começo é bom. Sem falar do maior calor da história da minha vida, posso afirmar que já tive dias melhores. Dias que deixaram saudade em todos os outros que viveria, e eu nem sabia o quanto isso era verdade. Há alguns dias acesso meu blog, escrevo, deleto e vou dormir, talvez eu desista hoje também. Porque há momentos em que o silêncio fala por nós, até mais do que qualquer frase ou texto bem elaborado e pensado. Outro dia minha irmã me marcou em uma foto no Instagram, quando alguém marca a gente nos sentimos quase que na obrigação de comentar qualquer coisa, na tentativa de corresponder talvez, eu não sei, comigo é assim. Mas eu não tinha palavra praquela foto, tratava-se de um daqueles dias de saudade em todos os outros.
 
Sempre que sinto vontade de pedir o conselho de alguém experiente sou obrigada a me lembrar que a minha vó Geny não está mais neste plano carnal, mas eu ainda estou e a saudade dói de fato na carne. Por instantes penso que espírito não sente dor, e me pergunto se ela sente saudades daqueles dias como eu. Se tem uma coisa que aprendi em meus 20 e poucos anos é que nem todas as minhas perguntas terão respostas, pelo menos não na hora que eu quero; que tudo sairá do meu controle quando eu mais precisar e que as pessoas que eu mais amo partirão da minha vida como num piscar de olhos, sem conotação. E tudo aquilo será apenas dias de saudade em todos os outros. Por mais amargo que possa parecer, é mais que isso, porque a pior saudade é aquela de nós mesmos, de quem um dia fomos naqueles dias.
 
Quando vejo a minha filha fazer coisas incríveis para a idade dela, concluo que a evolução humana é extraordinariamente linda de se observar, um tanto cômica também e, contraditória quando me vejo tão igual aos meus pais. É um bando de neuróticos na tentativa de concertar o que julgamos erros do passado, recriando novos erros igualmente, desta vez com ferramentas modernas, como um cérebro mais desenvolvido talvez, não sei o que entender por evolução humana, deve ser tudo menos psique. É como se a cada dia o mundo estivesse mais doente "da cabeça" invisível, sem remédio, e os médicos como principais enfermos. E aí me bate aquela saudade dos dias que eu não vivi, quando a minha bisa Joana ainda guria deve ter vivido uma infância ignorante de tecnologias no interior do sul do país, mas cheia de vida. Estes sim foram dias de saudade em  todos os outros até o fim, aqui dentro de mim.
 
E também como primeira postagem do ano eu sempre gosto de falar das minhas expectativas para o novo ciclo e todo aquele blábláblá que sempre tento aderir... desta vez nada tenho a dizer. Dos planos que já fiz para minha vida, tá, virou piada. Já que nada acontece como nos planos mesmo, meu plano para este ano é não planejar nada, o que para os críticos já será um plano em si, mas se for para ter um plano que seja um plano de "não plano". Porque às vezes a vida decide melhor que nós, e no meu caso, melhor nem entrar neste ponto. Quem sabe assim hoje se torne um dia de saudade em todos os que ainda virão.