segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Números são infinitos

Gosto como a vida toca comigo. Dificilmente escolho os caminhos mais fáceis, e mesmo assim sempre tenho a sorte de encontrar pessoas que facilitam os passos. Nem sempre o mais difícil é pior. Costumo dizer que não troco minhas dificuldades por uma vida fácil, porque se assim fosse talvez eu não tivesse a bagagem que carrego, o que proporciona me desesperar raramente. Embora dramática, são poucas as situações em que me preocupo. Gosto de como a vida me ensina.

Os mais velhos costumam achar que os mais jovens podem aprender com bons conselhos ou exemplos, mas eu ainda penso que o melhor aprendizado é aquele vivenciado, sentido, curtido e todo o mais que a experiência nos traz. Se alguém me pedisse para resumir a minha vida eu responderia um número. Números explicam muitas coisas, datas são números e carregam tanta coisa consigo. Eu detesto datas, detesto a exatidão da matemática (por não poder modificar, principalmente), nunca lembro aniversários; mas, hoje entendi algumas coisas sobre números.

Algumas marés chegam para que a gente aprenda a descer do barco e nadar sem equipamentos. Tenho aprendido isto, me afoguei amargamente, mas reconheci uma parte de mim capaz de coisas que eu jamais poderia imaginar, e que até julguei sem conhecer. Gosto como a vida pode me surpreender. Eu aprendi que é nos piores momentos da vida que as coisas boas surgem, porque são intensas, porque são de repente e porque definitivamente se escolheram ficar nesse momento vêm sem interesse nenhum e por isso, são sinceras. E eu arriscaria até dizer, eternas.

Não porque serão para sempre, mas porque nos oferecem intensidades que modificam elementos nossos de forma definitiva. E o definitivo é eterno. Eterno é o autoconhecimento que vamos adquirindo ao longo do amadurecimento da vida. Vamos nos sentindo mais inteiros, embora nunca completos; gosto como a vida me fala sobre mim. Aqueles que nos rebaixavam, já não têm mais tal capacidade. Aquele chão que caiu já não é a única base que possuímos. Dores vão sendo elaboradas, novas dores vão surgindo e te mostrando que tu aguenta mais do que imagina e que algumas forças só surgem quando de fato é necessário, impossível de prever.

A superação de tudo isso é que te coloca numa posição tão imensa de plenitude contigo, capaz de olhar no espelho e afirmar: Gosto como a vida me fez até aqui! Vai surgindo um amor próprio, por tanta descoberta, gosto como ousei me conhecer nos últimos meses. Dizem que estar em sua própria companhia é frustrante, mas eu sempre apostei que estar frustrado era o primeiro passo para se alcançar o que mais cedo ou mais tarde, é preciso. Ousar ultrapassar limites, ousar entender que os queridos são os piores, ousar que a vida é algo admiravelmente individual e só você é capaz de modificar a sua.

Concluir mais um ciclo compreendendo todos os outros que já passaram, unir os fatos, entender coincidências que no fundo nunca existiram. Saber o seu lugar, por mais complexo e misto que ele possa ser, não necessariamente encaixar naquele padrão bonito, e se sentir infinitamente belo. Por encontrar alguém nada mais nem menos que à si. Este ano foi disparado o pior e o melhor ano da minha vida. Conheci lugares, reencontrei pessoas, vivi novos afetos, reconheci à mim mesma. Encerro este ciclo absolutamente agradecida. E sobre o resumo da minha vida? 2014.