segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Falsa onipotência feminina

Ela acorda sozinha, corre bem cedo. Passa no mercado e vê o que irá almoçar, prepara o almoço na panela pequena e serve a mesa para ela mesma. Come e bebe exatamente aquilo que gosta, sem azeitonas. À tarde arruma seus livros, passa o aspirador no tapete como bem aprendeu. Ouve as músicas que quer, liga o DVD que verdadeiramente curte. Sem uma louça enorme e ter que aturar qualquer som que não queira, embora tudo o que ela queria esteja no par de pratos sobre a mesa ao som da Maria Bethânia ou Jorge Ben Jor. Ela marca a manicure e fica lá mesmo já pronta só para uma fofoquinha extra e, aproveita para acertar a sobrancelha, afinal... De noite tem baladinha!
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Ela come três pedaços de pizza, por que só cabe a ela saber que isso lhe custará um amanhã sem café e janta, talvez uma sopa. Paga as contas, ela trabalha para isso. Ela veste o vestido novo curtérrimo e vai badalar, por que ela não deve nada a ninguém e sabe das suas lindas pernas, as mesmas que amanhã ela achará celulite e correrá mais 1 km que o de costume. Ela dança, dança muito, e não depende de ninguém para ser feliz. Ela é livre e vai sem hora para voltar. Com os ombros de fora, ela mostra sua maior ousadia, a tatuagem um tanto de mistério, um tanto de loucura independente e em contrapartida, um tanto de fraqueza e impulsividade arrependida.
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Ela sabe o que quer, olha o ambiente de canto a canto como a fina avó ensinou, ela olha as pessoas. Liga para a amiga, é breve, pois não gosta de falar ao telefone. Ninguém sabe o que ela irá fazer, o que dá vontade ela faz. Nem mesmo ela prevê, pois não depende de ninguém para combinar nada. Simplesmente sente e faz. Ela vai ao psicólogo, vai ao dermatologista, à esteticista e ao parque, aprendeu a se cuidar em todos os aspectos e ainda que não esteja na moda, tudo bem. Ela se sente completa, completa como uma mentira bem contada. Trabalha, estuda, e vai sempre bem perfumada, o creme de açaí, o novo perfume e sempre o mesmo sabonete.
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Por não precisar da opinião de ninguém ela usa a roupa que quer, o salto ou a havaiana. Vai à padaria de pijama, varre o pátio de sapatilha. Sim, ela é feliz. Dorme por que quer, acorda por que precisa. Faz o que tem que fazer, mas valoriza o que quer fazer. Ela vive a sua melhor fase e sim, ela chora. Vai ao shopping sem hora. Assiste ao futebol de domingo solita e o Terceiro Tempo para entender 90% que ficou confusa. Ela se vira! Responde, sem exceção, todas as mensagens que recebe no celular, mas como quer responder e como a preguiça de digitar a permite.
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Ela é anti social, docemente bruta e do grupo das mais inteligentes e bonitas, é conhecida. Embora se sinta ignorante para falar de política e acorde parecendo um leão de juba loira. Insatisfeita. Ela é pontual, se atrasa quando não interessa e desmarca quando muda de idéia. Ela canta bem alto, como que para alguém ouvir ainda que de muito longe. Muito longe? Sim, ela sente saudades. E com tamanha presença de si mesma, esta saudade não poderia ser dela mesma. Ela nega, com toda certeza ela é mentirosa a favor de suas defesas. Ela é uma artista.

2 comentários:

Adriana Gisele de Lima disse...

Todos nós temos um artista escondido que se revela em determinados momentos.

Adorei...
assim como todos os seus textos...

PS: as azeitonas pode deixar para mim,rs

bjs

Anônimo disse...

Vai de pijama na padaria?...pensei que fosse um agasalho...kkkkkkkkkk...bjs \º/