terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Caipira Bréga

Quem me vê não diz exatamente como eu cresci, mas isso não importa muito. Quando cheguei na cidade estranhei muita coisa, desde então já mudei muito, claro. É inevitável. Mas não dá para aceitar algumas coisas que eu vi e ouvi por aqui. Tenho visto pessoas ouvindo uma única música sertaneja da mídia e dizendo que curte música caipira ou que é um caipira bréga. Desculpa, não é bem por aí. Enfermeiros não são médicos. Portanto, permitam-me defender uma raiz minha. O caipira não veste xadrez, e sim o que tiver. Não tem um estilo modelo, que pode ser copiado. Ouve música no rádio, não em MP3 Player. Não toca sanfona e violão, puxa o vanerão.
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E por falar em música, ouvir sertanejo universitário é bastante diferente de ser caipira bréga. Isso de fato me irrita. Eu cresci numa cidade muito caipira, e fui usar chinelos na cidade, o autêntico bréga... anda descalço, tem pés chatos para comprovar isso. O caipira vive na roça, não frequenta Shopping Center, nem entende de moda. É sem cultura, mas se tu sentar com ele, te ensina que vida é pra ser vivida, e não distraída com milhões de atividades vazias. Quando eu vivia no mato, com chimarrão e cachorros para ocupar minha tarde, eu era muito mais feliz do que hoje, com faculdade, programações com amigas, organização de tempo.
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O dia tem 24 horas e a gente percebe isso. Não diga que és caipira bréga por não estar na moda, porque a moda hoje é estar fora dela. Não diga que és caipira bréga por curtir uma baladinha meio cowboy, porque uma coisa tem nada a ver com a outra. Não diga que és caipira bréga porque não aguenta uma noite como tal. Tô falando de pegar a laranja no pátio pro suco no café da manhã. De não matar aranha por que "ela não desce aqui não". Nem preocupar-se se está te agradando, pois quem quer aparece, quem não quer grito daqui mesmo "Óóóhhh tarrrde!" De vestir uma calça que te deixe confortável, e não dar nome à ela. Respirar ar. Ter terra nas unhas. Beber água da torneira em copo de alumínio.
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O maior estrago que fizeram na minha vida, foi me botar num curso de etiqueta na cidade. Quão grande é a minha saudade de não saber de esmaltes, política, marcas e com qual mão e como devo segurar os talheres. Não poderei ser uma caipira bréga como fui na infância, sempre vou saber do que aprendi aqui. Mas não vou deixar que pessoas continuem a falar do que não sabem, jamais saberão. Eu odeio o padrão, odeio esse povo que não sabe o que é ser roots e faz moda disso. Conhece teus vizinhos? Pois é, o vizinho do cara bréga é compadre, não racha a conta, divide a batata. Jamais saberá o que é isso. Por fim, isso é tudo o que eu sempre tentei explicar e nunca me fiz entender. Não sabe o que diz? Cala a boca, porque eu já estou de saco cheio dessa modinha superficial.

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