quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ser mulher é fazer o que se tem vontade

Estava demorando para eu escrever sobre a mulher. Há pouco menos de 1 ano eu me tornei mais mulher, já nasci mulher, mas quero dizer aquela que a sociedade estipulou. Semana passada uma estudante de jornalismo me procurou com o convite de responder à uma entrevista em sua matéria para a faculdade. Eu pedi o tema e uma prévia das questões para me preparar e, lá veio o título "A mulher atual e seus múltiplos papéis". Pareceu piada. Mas eu aceitei o desafio! Era como falar de mim mesma, com o máximo possível de base teórica que eu conseguisse ignorar de mim mesma e me focasse na psicologia, ela buscava respostas de uma psicóloga e não da mulher "multitarefada" que sou. Contudo, eu fui bastante sincera também com relação ao que minha experiência ainda muito pequena já me proporcionou. Não é fácil! E nenhuma mulher consegue o sucesso sozinha, assim como qualquer pessoa. Ajuda é fundamental, mas sem dúvida alguma, quando a coisa aperta, é a mulher quem tem que resolver. 

Dizem que quando a mulher casa ela passa a ter sempre um filho a mais: o marido! E isso é a pura verdade, os homens têm uma extraordinária ideia, unânime entre eles aliás, de que a mulher sucede as tarefas de suas mães, isso me cansa. Batemos o carro no final de semana passado, graças a Deus está tudo bem, mas o carro foi para o concerto e ficará na "UTI dos automóveis" nos próximos 15 dias. Quem busca a criança na escola de ônibus??? Mamãe, sim, eu! E como se não bastasse o filho e o marido-filho, a mulher vai e busca afeto ainda maior com algum bichinho de estimação... Porque a criança precisa, porque é saudável o contato com animais, porque diverte a família e um monte de blábláblá pra não assumir que ela mesma queria o filhote. Pra não assumir que eu queria muito o filhote. Mas como dar conta disso tudo? 

Engravidei de uma filha e me vejo com três, o bebê, o outro bebê maior e o bebê de focinho. Haja recordações do tempo em que eu chegava em casa e fazia nada com a Doty para me torturar e dizer a velha frase dos nossos pais "Eu era feliz e não sabia". Eu vou te falar que sou muito feliz hoje, pra lá de bagadá! Mas... necessito não cozinhar só hoje. Se eu trabalho fora e evolui dessa questão social de que só o homem trabalha, porque ele não pode passar as minhas roupas também? É muito forte ainda, infelizmente, a pressão social sobre a vida da mulher e, eu estou me sentindo prejudicada com isso. Eu não vou lutar contra, não daria murro em ponta de faca, só estou registrando mais uma fase dessa minha vida maluca. Apesar de tudo, eu tenho orgulho de ser essa mulher, ainda que estigmatizada como estressada, eu tenho muito orgulho sim. 

Qualquer um pira quando se vê no meio de ração do cachorro, vacina do filho, comida do marido, almoço nos sogros, buscar filho na escola, pegar trânsito, sair do trabalho pra passar no banco em horário bancário, voltar depois disso para a reunião, muito calor, muita chuva, muita gente, muito palpite, dieta pós parto, arruma o cabelo, marca de fazer a unha, não comparece, marca de novo, faz a unha... chora o filho, chama o marido, late o cachorro, vence o boleto, grita a mulher! E por ai vai o nosso estigma de "pimentinha bicuda", no meu caso. Nessa junção de coisas um tanto cômicas e trágicas ao mesmo tempo, eu vou me tornando uma mulher, talvez eu seja uma por completo quando conseguir deixar as roupas brancas, brancas. Talvez eu nem chegue tão longe assim. Mas o gostoso mesmo é rir de cada fase, fazer acima de tudo o que se tem vontade, porque rotina e homem nenhum tiram o teu amor próprio, a tua feminilidade de dizer até onde podem chegar. A liberdade de buscar prazer nas obrigações e realização quando o dever é cumprido. O marido de barriga cheia no sofá, a louça lavada, o filho de banho tomado e tu a ler teu livro. Eu estou me divertindo!!!

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