terça-feira, 22 de abril de 2014

Marina

Existem pessoas que amam, existem pessoas que depositam em outra pessoa a grande responsabilidade de serem a sua real razão para viver. Algumas pessoas têm esse alguém ao qual não existiria razão para existir sem. Eu tenho uma Marina. Mas não é uma Marina qualquer; a Marina da minha história se tornou a real razão de muitos para continuarem uma luta chamada "Tenho esclerose múltipla".

Há alguns dias minha irmã, portadora de esclerose múltipla há 2 anos, criou um blog pessoal nomeado MGMAFRA, onde ela discorre num estilo diário super atrativo e cômico sobre a doença. Este meu post é para divulgar seu trabalho esplêndido; mas também para que todos saibam de uma luta chamada: "Porque não eu?"

Hoje em dia é difícil ver irmãos como Marina e Marília, devo esta gratidão à nossa mãe que sempre castigou a culpada e a cúmplice por jamais entregar a outra, eu geralmente era a cúmplice, quase vítima pela frequência rs. Assim crescemos, juntas no bom e ruim. Não poderíamos imaginar que algo de tão ruim estaria por vir anos mais tarde.

Em 2011 descobri que eu estava grávida; ano de TCC na faculdade, tomando anticoncepcional, com uma convocatória dos Médicos Sem Fronteiras na caixa de entrada do meu outlook. Poxa, a rescem casada é a Marina, porque eu?? Também não poderia imaginar que em poucos meses eu me faria justamente a pergunta inversa.

Como geralmente nada sai como planejo, logo vi o lado maravilhoso da mudança de planos. E não demorou para a minha Marina ter a primeira internação. Eu ficaria aqui escrevendo estrofes infinitas, não seria novidade para ninguém. Mas eu respondi a minha pergunta, somente o amor da maternidade para me fortalecer no medo pavoroso de perder a minha cúmplice.

Como neurótica estudante da ciência humana, fiz contato com uma representante brasileira de doenças autoimunes na Índia, descobri um laboratório lá que faz tratamento com células troncos, inscrevi a Marina. Como arrumar as células? Planejei outro filho. Como pagar o tratamento? Venderíamos os carros, daria para pagar passagens pra ela ir sozinha e receber um mês de tratamento.

Enquanto a Marina lutava para andar e tentava sobreviver com aquele pesadelo, eu aprendia a tabuada para calcular toda a grana envolvida. É claro que eu estava fora da realidade e os cálculos mais perdidos que minha cabeça. Encontrei um médico com tratamento alternativo no Brasil, liguei e agendei a consulta, achei que estava no controle de tudo. Só esqueci de perguntar à personagem principal o que ela realmente gostaria de fazer com a própria vida. Liguei e desmarquei a consulta.

E pela primeira vez em 22 anos, algo ruim fez com que nos afastássemos por um tempo. Antes que eu enlouquecesse nós duas com meu desequilíbrio. No meio disso tudo a nossa Sophia. Eu não parei de estudar, voltei de licença maternidade e virei uma célula tronco gigante ambulante. Tudo o que eu queria saber com toda aquela pesquisa, era na verdade: "Porque não eu??"

Quem nunca se fez essa pergunta não sabe o que é se sentir impotente. Após 2 anos, com este blog que hoje divulgo, em um post que venho elaborando há dias, eu, ou a minha própria Marina, respondem a minha pergunta. Não foi eu pelo principal detalhe que acabei deixando passar pelo desespero. A Sophia chegara. A esclerose múltipla também. Ambas teriam de chegar. E as duas não poderiam vir na rescem casada.

Eu enfrentaria essa parte por nós duas, afinal, sempre fomos uma só, lembra? Todos os meus planos mudaram, porque eu não teria a força que essa guerreira teve, e recebi a parte mais leve, a parte da irmã mais nova. Para que a missão dela fosse cumprida sem interromper a chegada da Sophia. Hoje somos mães e a própria Sophia prova isso em suas preferências rs.

Eu não posso viver os sintomas da esclerose, mas sou cúmplice nessa dor, tô de "castigo" junto! A Marina não pôde dar a luz a Sophia, mas basta ela chegar para o mundo da Sophia fechar nas duas, e que por sinal veio a cara dela. Este post é para a minha Marina, mas principalmente aos familiares de portadores de E.M. que também se perguntam "Porque não eu??" 

Vai doer todos os dias a impotência, mas eu prometo que a cada dia desses, as coisas vão lhe mostrar que para ter esclerose múltipla não basta ser só alguém assim como eu e você, tem que ser uma Marina.









2 comentários:

Marina Mafra disse...

Que meleca... Em prantos e tremendo te respondo.... Caraca... Eu não conseguiria sem você meu Fedô. Eu aguento todo e qualquer fardo para que você não sofra e se pudesse levava seu mundo nas minhas costas. Sempre seremos uma só. Eu te amo mais que tudo no universo. E sabendo que sou paciente de EM, deveria não me permitir momentos assim hahah quase morri mana. Obrigada por ser tudo que eu preciso e mais um pouco. Meu tesouro.... Que me deu algo mais valioso ainda. Nossa pimentinha. Beijo de longe porque você odeia chamego.rs

Marina Mafra disse...

Essas fotos.... Meu Pai.... Haha vc acaba comigo.