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Quem me vê não diz exatamente como eu cresci, mas isso não importa muito. Quando cheguei na cidade estranhei muita coisa, desde então já mudei muito, claro. É inevitável. Mas não dá para aceitar algumas coisas que eu vi e ouvi por aqui. Tenho visto pessoas ouvindo uma única música sertaneja da mídia e dizendo que curte música caipira ou que é um caipira bréga. Desculpa, não é bem por aí. Enfermeiros não são médicos. Portanto, permitam-me defender uma raiz minha. O caipira não veste xadrez, e sim o que tiver. Não tem um estilo modelo, que pode ser copiado. Ouve música no rádio, não em MP3 Player. Não toca sanfona e violão, puxa o vanerão.
.E por falar em música, ouvir sertanejo universitário é bastante diferente de ser caipira bréga. Isso de fato me irrita. Eu cresci numa cidade muito caipira, e fui usar chinelos na cidade, o autêntico bréga... anda descalço, tem pés chatos para comprovar isso. O caipira vive na roça, não frequenta Shopping Center, nem entende de moda. É sem cultura, mas se tu sentar com ele, te ensina que vida é pra ser vivida, e não distraída com milhões de atividades vazias. Quando eu vivia no mato, com chimarrão e cachorros para ocupar minha tarde, eu era muito mais feliz do que hoje, com faculdade, programações com amigas, organização de tempo.
.O dia tem 24 horas e a gente percebe isso. Não diga que és caipira bréga por não estar na moda, porque a moda hoje é estar fora dela. Não diga que és caipira bréga por curtir uma baladinha meio cowboy, porque uma coisa tem nada a ver com a outra. Não diga que és caipira bréga porque não aguenta uma noite como tal. Tô falando de pegar a laranja no pátio pro suco no café da manhã. De não matar aranha por que "ela não desce aqui não". Nem preocupar-se se está te agradando, pois quem quer aparece, quem não quer grito daqui mesmo "Óóóhhh tarrrde!" De vestir uma calça que te deixe confortável, e não dar nome à ela. Respirar ar. Ter terra nas unhas. Beber água da torneira em copo de alumínio.
.O maior estrago que fizeram na minha vida, foi me botar num curso de etiqueta na cidade. Quão grande é a minha saudade de não saber de esmaltes, política, marcas e com qual mão e como devo segurar os talheres. Não poderei ser uma caipira bréga como fui na infância, sempre vou saber do que aprendi aqui. Mas não vou deixar que pessoas continuem a falar do que não sabem, jamais saberão. Eu odeio o padrão, odeio esse povo que não sabe o que é ser roots e faz moda disso. Conhece teus vizinhos? Pois é, o vizinho do cara bréga é compadre, não racha a conta, divide a batata. Jamais saberá o que é isso. Por fim, isso é tudo o que eu sempre tentei explicar e nunca me fiz entender. Não sabe o que diz? Cala a boca, porque eu já estou de saco cheio dessa modinha superficial.