Sempre esse caderno sem linhas e essa vontade de ir para qualquer lugar que por alguma razão nunca é um lugar concreto, ou possível, ou perto. A velha vontade de jogar tudo para o alto e apenas ir... Aquela vontade de estar dentro deste avião que está passando agora, não importando o seu destino, apenas estar lá à caminho de qualquer sentir. Insistência esta de me envolver com aquilo que não dou conta, sem perceber à mim tamanha afronta.
Como se a vida fosse esta página sem linhas que limitem o escrever, se eu quiser de repente mudar a direção ou fonte, nada me impeça de fazer. Essa neurose que me faz repetir, repetir e querer mudar tudo só para repetir outra vez. Esse desejo do que ainda nao é, nem nunca será talvez. Porque é massante, porque é concreto demais, estressante. Pode até ter pertencido a lugares e coisas, mas sabia-se também este, viajante.
Ondas que se formam de repente, causam um pequeno ou grande caos e que se vão assim como vieram. Intensas no presente, lembradas num futuro e absolutamente inexistentes de um passado que na verdade se esqueceram. Essa insatisfação que me cala, este grito no silêncio que me abala. Essa obrigação de que devemos estar no mesmo lugar que nosso corpo.
Como se fôssemos nada além deste monte de carne e osso. Como se a minha mente não estivesse naquele voo, como se ao desembarcar eu também não estivesse de volta ao corpo. E no fundo, entre essas não-linhas, eu soubesse que, naturalmente, nunca estive perto de ninguém e já não sabendo o que fazer com a neurose, desenvolvi essa maldita falta de aventura que me faz optar pela loucura.