Existem pessoas que amam, existem pessoas que depositam em outra pessoa a grande responsabilidade de serem a sua real razão para viver. Algumas pessoas têm esse alguém ao qual não existiria razão para existir sem. Eu tenho uma Marina. Mas não é uma Marina qualquer; a Marina da minha história se tornou a real razão de muitos para continuarem uma luta chamada "Tenho esclerose múltipla".
Há alguns dias minha irmã, portadora de esclerose múltipla há 2 anos, criou um blog pessoal nomeado MGMAFRA, onde ela discorre num estilo diário super atrativo e cômico sobre a doença. Este meu post é para divulgar seu trabalho esplêndido; mas também para que todos saibam de uma luta chamada: "Porque não eu?"
Hoje em dia é difícil ver irmãos como Marina e Marília, devo esta gratidão à nossa mãe que sempre castigou a culpada e a cúmplice por jamais entregar a outra, eu geralmente era a cúmplice, quase vítima pela frequência rs. Assim crescemos, juntas no bom e ruim. Não poderíamos imaginar que algo de tão ruim estaria por vir anos mais tarde.
Em 2011 descobri que eu estava grávida; ano de TCC na faculdade, tomando anticoncepcional, com uma convocatória dos Médicos Sem Fronteiras na caixa de entrada do meu outlook. Poxa, a rescem casada é a Marina, porque eu?? Também não poderia imaginar que em poucos meses eu me faria justamente a pergunta inversa.
Como geralmente nada sai como planejo, logo vi o lado maravilhoso da mudança de planos. E não demorou para a minha Marina ter a primeira internação. Eu ficaria aqui escrevendo estrofes infinitas, não seria novidade para ninguém. Mas eu respondi a minha pergunta, somente o amor da maternidade para me fortalecer no medo pavoroso de perder a minha cúmplice.
Como neurótica estudante da ciência humana, fiz contato com uma representante brasileira de doenças autoimunes na Índia, descobri um laboratório lá que faz tratamento com células troncos, inscrevi a Marina. Como arrumar as células? Planejei outro filho. Como pagar o tratamento? Venderíamos os carros, daria para pagar passagens pra ela ir sozinha e receber um mês de tratamento.
Enquanto a Marina lutava para andar e tentava sobreviver com aquele pesadelo, eu aprendia a tabuada para calcular toda a grana envolvida. É claro que eu estava fora da realidade e os cálculos mais perdidos que minha cabeça. Encontrei um médico com tratamento alternativo no Brasil, liguei e agendei a consulta, achei que estava no controle de tudo. Só esqueci de perguntar à personagem principal o que ela realmente gostaria de fazer com a própria vida. Liguei e desmarquei a consulta.
E pela primeira vez em 22 anos, algo ruim fez com que nos afastássemos por um tempo. Antes que eu enlouquecesse nós duas com meu desequilíbrio. No meio disso tudo a nossa Sophia. Eu não parei de estudar, voltei de licença maternidade e virei uma célula tronco gigante ambulante. Tudo o que eu queria saber com toda aquela pesquisa, era na verdade: "Porque não eu??"
Quem nunca se fez essa pergunta não sabe o que é se sentir impotente. Após 2 anos, com este blog que hoje divulgo, em um post que venho elaborando há dias, eu, ou a minha própria Marina, respondem a minha pergunta. Não foi eu pelo principal detalhe que acabei deixando passar pelo desespero. A Sophia chegara. A esclerose múltipla também. Ambas teriam de chegar. E as duas não poderiam vir na rescem casada.
Eu enfrentaria essa parte por nós duas, afinal, sempre fomos uma só, lembra? Todos os meus planos mudaram, porque eu não teria a força que essa guerreira teve, e recebi a parte mais leve, a parte da irmã mais nova. Para que a missão dela fosse cumprida sem interromper a chegada da Sophia. Hoje somos mães e a própria Sophia prova isso em suas preferências rs.
Eu não posso viver os sintomas da esclerose, mas sou cúmplice nessa dor, tô de "castigo" junto! A Marina não pôde dar a luz a Sophia, mas basta ela chegar para o mundo da Sophia fechar nas duas, e que por sinal veio a cara dela. Este post é para a minha Marina, mas principalmente aos familiares de portadores de E.M. que também se perguntam "Porque não eu??"
Vai doer todos os dias a impotência, mas eu prometo que a cada dia desses, as coisas vão lhe mostrar que para ter esclerose múltipla não basta ser só alguém assim como eu e você, tem que ser uma Marina.